4º Domingo da Quaresma

"Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito" (Jo 3,16).

Na conversa que tem com Nicodemos (Jo 3,14-21) Jesus lembra um episódio ocorrido no tempo de Moisés, quando o povo caminhava pelo deserto (Nm 21,4-9). Convidado por Deus a evitar a terra de Edom, muitos começaram a murmurar, pois o caminho era mais difícil. O Senhor enviou serpentes venenosas que mordiam as pessoas. Muita gente morreu por causa disso. O povo se arrependeu e pediu a intercessão de Moisés. Deus ordenou que se fizesse uma serpente de bronze e que a mesma fosse colocada numa haste. Todos aqueles que eram mordidos pelas serpentes venenosas deveriam olhar para a serpente de bronze e, assim, receber a cura.

Na Antiguidade havia um culto a uma serpente enrolada numa vara, adorada como um deus que cura. O símbolo do deus grego da medicina, Esculápio, traz uma serpente enroscada, utilizado até hoje.

No episódio do deserto Deus é apresentado como aquele que oferece a cura e a proteção. Hoje não contemplamos mais uma serpente de bronze, mas o Filho de Deus na cruz. Nossos olhos, nosso coração, nossa atenção se voltam para aquele que é fonte de vida e salvação: Jesus crucificado. Na cruz o grande mistério de amor se revela: Deus nos oferece Jesus para nos salvar. Nele, o Pai vem ao encontro dos seus filhos e filhas, busca-os porque os ama.

O 4º domingo da Quaresma nos convida a celebrar a alegria em meio à penitência, pois essa prática tem como objetivo o próprio Deus, que é alegria e salvação. A conversão que este tempo nos pede é voltar-se para Jesus Cristo, é entregar a vida a Deus e acolher o seu amor. Quando experimentamos esta graça somos capazes de corresponder com o nosso testemunho, na alegria.

O segundo livro das Crônicas (2 Cr 36,14-16.19-23) apresenta Deus fiel à aliança. Ele é capaz de criar coisas novas apesar da infidelidade e pecados do povo. Age na pessoa de Ciro, um rei estrangeiro escolhido como instrumento para a restauração da Nação.

O apóstolo Paulo (Ef 2,4-10) afirma que “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo”. É a graça divina que nos salva. Este é o Evangelho de Paulo, após sua conversão: nós somos justificados pela graça, pela redenção em Jesus Cristo (Rm 3,24). A sua justiça é de perdão e misericórdia, fundada na gratuidade do amor. Ele ama primeiro, mesmo na nossa condição de pecadores. Ama por que é bom. O maior sinal do seu amor por nós é o envio do seu Filho e sua morte na cruz para nos redimir. O próprio Senhor, no Evangelho de João, afirma que “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). O Pai nos torna justo pelo dom do Espírito Santo. Ele é pura misericórdia e não se deixa mover pelas obras da Lei. Nenhuma criatura tem poder sobre ele, nem pelos seus méritos. O seu amor é gratuito e nunca conquistado ou merecido. Deus nos liberta dos pecados, mediante a fé em Jesus Cristo (Ef 2,8).

Quando celebramos a Missa, rezamos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Não compramos o favor de Deus com as nossas atividades. Somos gratuitamente justificados pela redenção de Jesus Cristo.

O tempo de Cristo é o da misericórdia de Deus. O sinal de acolhida desta graça é o Batismo. Neste sacramento acolhemos a luz que Jesus nos oferece e nos comprometemos com a sua proposta de vida. “Quem age conforme a verdade - diz Jesus – aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21).

A nossa alegria é o amor de Deus. Esta certeza nos consola e afasta de nós qualquer sentimento de tristeza. É preciso cultivar a alegria, que tem Deus como causa

Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.