Ceia do Senhor

Homilia da Ceia do Senhor

Uma antiga tradição da Igreja católica define a sua missão, espiritualidade e identidade a partir de três tarefas: santificar, ensinar e governar o povo de Deus. Elas estão intimamente ligadas entre si, se completam e se harmonizam, sendo que a primeira dá sentido às demais, pois “nenhuma atividade pastoral pode-se realizar sem referência à liturgia” (Puebla, 927); ela “é o cume para o qual tende a atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte da qual emana toda a sua força” (SC, 10).

 A fé é uma experiência de encontro de amor com a pessoa de Jesus Cristo, que acontece “de modo admirável, na Sagrada Liturgia”, sendo que a “Eucaristia é o lugar privilegiado” (DAp, 250-251), pois todo bem espiritual da Igreja está contido nela, o próprio Cristo.

Na celebração da Páscoa com os Doze, Jesus nos deixou três grandes presentes: a instituição da Eucaristia, a instituição do sacerdócio e a virtude da caridade. Na Quinta-feira Santa meditamos e contemplamos o mistério eucarístico e voltamos em espírito ao Cenáculo: ali é a nossa casa, onde temos a “santa aula para a nossa vida” (São João Paulo II). Na Eucaristia encontramos o conforto para a nossa vida, o segredo para vencer a solidão, o apoio para suportar os sofrimentos, o alimento para retomar o caminho depois do desalento, a energia interior para confirmar a nossa fidelidade.

Eucaristia é a tradução de “Berakhá”, é o nome mais comum para o Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, que significa oração de louvor, ação de graças e de bênção. Mas há outros nomes que foram surgindo nas origens e história do cristianismo, como: ágape, paz, assembleia, ceia do Senhor, fração do pão, reunião convivial, refeição comum, banquete, oração, aliança, mesa sagrada, alimento, santíssimo sacramento, mistério da fé, sacrifício, oblação, sacramento da caridade, missa. Todos esses nomes expressam o seu profundo significado: oração de louvor, bênção e ação de graças ao Pai. A Eucaristia é o maior ato de louvor.

Um dos frutos da Eucaristia é a fraternidade. Se ela é sacramento da comunhão, tanto é que tornou-se linguagem familiar, quando vamos receber a hóstia consagrada, dizer “comungar”, pois comungamos com a luz que é Jesus, com o seu amor, com a verdade, tornamo-nos sinais e propagadores dessa experiência. Uma comunidade eucarística deve permanecer em comunhão com a Igreja, pois a Eucaristia cria comunhão e educa para a comunhão.

Jesus constituiu com os seus uma família, uma comunidade marcada pela amizade, pela convivência, pela fraternidade e comunhão. A experiência de comunhão pessoal de Jesus com o Pai, deve se refletir na comunhão dele com os seus discípulos. O amor constrói a unidade e caracteriza o relacionamento do Mestre com os seus. Os discípulos foram orientados a repetir na sua vida o mesmo estilo.

Jesus viveu a comunhão fraterna com os seus discípulos e os exortou à comunhão. Na sua “Oração Sacerdotal” (Jo 17), ele nos pede que sejamos um: que sejamos um no Pai e no Filho (Jo 17,21). A intenção profunda do coração de Jesus é a nossa unidade. Também no Evangelho de João, por ocasião da paixão e morte de Jesus, o texto diz que os soldados não rasgaram a sua túnica, mas tiraram a sorte para ver de quem seria (Jo 19,23-24). Segundo alguns exegetas, o símbolo da túnica que não foi repartida lembra a unidade da Igreja. João apresenta um Jesus que morreu pela nossa unidade.

O nosso caminho é viver o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos. Que a Eucaristia seja o nosso alimento nessa missão.

Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo diocesano.