6º domingo da Páscoa

Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira!" (Sl 97,4)

Jo 13-17, conhecido como livro da glorificação de Jesus, trata de vários assuntos: volta de Jesus para o Pai, através da sua morte-ressurreição; a promessa do Espírito; a preparação dos discípulos para a missão futura; o valor da união com Deus e a prática do serviço e do amor fraterno. Os discípulos estão apreensivos, desconcertados, tristes, desolados e com medo diante das revelações de Jesus: Judas iria traí-lo (Jo 13,18.21.26-27) e Pedro negá-lo (Jo 13,38). Jesus orienta os discípulos, transmite consolo e esperança, e deixa o mandamento novo, que é a prática do amor como resposta ao vazio deixado por sua ausência. Estabelece entre ele e os discípulos um outro tipo de presença: Deus habita o coração de quem ama.

No 6º domingo da Páscoa lemos Jo 15,9-17. Depois de se apresentar como a videira verdadeira e falar da necessidade de permanecermos nele, para podermos produzir fruto, Jesus ressaltou a importância do mandamento do amor. “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor... Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,9.12). O amor que Jesus ensina é teologal, tem origem no amor do Pai pelo Filho: “Deu é amor” (1 Jo 4,8). O seu amor se manifestou no envio de Jesus, “vítima de reparação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,10), para que tenhamos a vida por meio dele. Deus sempre toma a iniciativa de amar primeiro. O amor das pessoas divinas por nós gera a possibilidade de também amarmos a Deus e aos irmãos. O amor do Pai por Jesus é a base do amor de Jesus pelos discípulos. Este amor deve caracterizar os seus seguidores. Deus é a única fonte de amor. Aprendemos a amar possuindo a sua vida.

O amor é central nos escritos João. Ele é conhecido como o “discípulo que Jesus amava” (Jo 13,23; 19,26. Mas no Evangelho, o tema só aparece a partir do capitulo 13, quando trata da glorificação de Jesus. O que João quer dizer com isso, ao falar do amor fraterno só no fim? Ele quer mostrar que o amor é um aprendizado. Precisamos aprender a amar e Jesus é o nosso professor. No livro da glória, ele nos ensina o que é o amor e o que é amar. Inicia com o exemplo do lava-pés. A capacidade de amar é expressão do serviço.

Pela nossa humanidade, não somos capazes de amar. Esse amor é transmitido a nós pelo Batismo, no gesto do lava-pés, na cruz e no envio do Paráclito. O amor se revela na paixão. Antes do mistério pascal, os discípulos eram incapazes de amar.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). No gesto do lava-pés, Jesus derramou o seu amor na vida dos discípulos. Quando o soldado abriu o seu lado com a lança, saiu sangue e água (Jo 19,34). Do seu coração transpassado, brotou a possibilidade de liberação do amor nos discípulos. Após a Páscoa, Jesus soprou sobre os discípulos o Espírito Santo (Jo 20,22).

Para João, Jesus nos comunica a sua vida através do serviço, pelos sacramentos e pelo Espírito Santo. A água do Batismo, o lava-pés, o sangue da Eucaristia e o envio do Paráclito: são a nossa salvação. Quando entramos nessa água, deixamos Jesus lavar os nossos pés, tomamos do seu sangue e assumimos a unção do Espírito Santos, tornamo-nos aptos para amar. Aprendemos a amar possuindo a vida de Deus, pois Ele é amor. Essa comunicação vem da vida intima de Jesus: água, serviço, sangue e Espirito Santo. Quando somos batizados, comungamos o Corpo de Cristo e recebemos a unção do Espírito Santo, experimentamos uma escola de amor.

Amar é sentir-se amado, é acolher, guardar e observar os mandamentos. Amar é servir, é dar a vida: assim se constrói a amizade e se produz fruto que permanece. Amar é temer a Deus e praticar a justiça (At 10,35).

Estamos nos preparando para acolher Aquele que é chamado em nossa defesa, do qual procuramos consolação. Não encontramos consolo em coisas passageiras. Deus é o nosso sustento, só Ele basta. Sendo consolados pelo Espírito, procuramos consolar e aliviar a aflição, confortar a tristeza, ajudar a superar o medo e dissipar a solidão de nossos irmãos e irmãs: isto é amar. Na Eucaristia renovamos a presença do Espírito Santo em nós.


Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.