23° Domingo do Tempo Comum - Ano A
Reflexão da Liturgia Dominical
Mateus 18 relata um discurso de Jesus sobre a vida comunitária. São vários temas abordados, como a humildade, o escândalo causado aos pequenos, a correção fraterna, a oração comunitária e o perdão.
Jesus constituiu com os discípulos uma família, uma comunidade marcada pela amizade e pela convivência fraterna. A comunhão de amor foi um tempo de formação e aprendizado, que inspirou os discípulos a repetir o mesmo estilo de vida e de relacionamento que Jesus viveu com o Pai e com eles. Eles deveriam praticar o amor, a unidade e a comunhão do mesmo modo que viveram com Jesus. Esta é a marca e a identidade da vida cristã: o amor fraterno, que conduz a comunidade.
Mas a comunidade é formada por pessoas, com suas qualidades e suas fraquezas. As limitações humanas alcançam também aqueles que têm fé. Por isso, as tensões são naturais e colocam cada um diante de sua realidade de pobreza e a necessidade de tomar as medidas adequadas de oração, de diálogo, de paciência, de esforço, de perdão para superar a crise e reencontrar a unidade perdida.
Jesus fala da importância da correção fraterna, do acordo e da comunhão em seu nome (Mt 18,15-20). É dever e responsabilidade corrigir quem errou (Ez 33,7-9).
Quando algum membro da comunidade comete uma falta, todo o corpo sofre. Como curar a ferida? A correção é o remédio. A paciência, a tolerância e a misericórdia são critérios de ação da comunidade.
Passos para a reconciliação:
Ir à procura de quem errou, não importa a falta cometida, o que vale é a atitude de acolhida e misericórdia. É uma correção pessoal, particular, sem muito barulho. Este primeiro passo evita expor pessoas a constrangimentos. Se o irmão que errou ouvir a correção, a comunidade é quem ganha.
Se o irmão não der ouvido, a situação deve ser resolvida com algumas testemunhas. Tudo deve ser feito para que o mesmo não se perca.
Caso não deem certo os passos dados, a situação deve ser resolvida com a participação da Igreja. Mas tudo deve ficar dentro da comunidade.
Se a pessoa persistir no erro, deverá ser considerada como um “pagão”, ou “pecador público”. Jesus conviveu com os pagãos e os publicanos. Por isso, tratar o pecador assim, é continuar insistindo para que volte a fazer parte da comunidade.
Essa correção fraterna entre os irmãos da comunidade é uma das maneiras de se viver a fraternidade. É possível fazer o irmão tomar consciência de suas limitações e dos seus erros, e ao mesmo tempo ajudá-lo a encontrar a força para superar e descobrir suas capacidades de amor e de bondade.
São Paulo diz que o amor é a nossa única dívida, é o cumprimento perfeito da lei (Rm 13,8-10). Este mandamento deixado por Jesus dá sentido à vida, pois o ser humano só se realiza pelo exercício do amor doado e recebido. Só amadurecemos a nossa personalidade quando sabemos doar e conviver com os outros, com as diferenças e com as particularidades, no exercício do amor, nossa vocação fundamental.
O amor fraterno exige ultrapassar a nós mesmos. Se não temos o alimento espiritual necessário, curvamo-nos na comodidade, na segurança, ou nos refugiamos em outras coisas. Precisamos da graça de Deus. O alimento para um relacionamento sadio e cristão deve ser buscado na oração, na escuta da Palavra de Deus, na Eucaristia e na Confissão.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.