6º Domingo da Páscoa

João 14,23-29 faz parte do livro da Glorificação de Jesus (cf. Jo 13-17). No contexto da celebração da Ceia com os Doze, no cenáculo, ele realizou um gesto desconcertante, lavando os pés dos discípulos.

Foi um ato de amor e humildade: Jesus amou, servindo. Após o gesto, temos uma espécie de catequese com vários temas, são as últimas lições do Mestre, através de palavras marcadas pela intimidade, ditas num clima de silêncio, discrição e contemplação. No centro de tudo, está o mandamento novo, a prática do amor, como resposta ao vazio deixado por sua ausência. Amar é acolher, guardar e observar os mandamentos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23. Jesus estabeleceu entre ele e os discípulos um outro tipo de presença: Deus habita o coração de quem ama. Santa Teresa de Jesus, ou Teresa de Ávila, escreveu Castelo interior ou moradas, um guia de viagem para se chegar ao interior da alma, onde se encontra o castelo e nele mora um Rei. Nossa alma é um grande castelo composto de moradas: o Senhor mora no mais íntimo da alma. Para ela, não há nada mais grandioso, depois de Deus, do que o ser humano, na sua interioridade. A alma é tão extraordinária que a inteligência humana nunca será capaz de analisá-la completamente. No caminho da oração, chegar às Sétimas Moradas, é configurar-se a Cristo. Ele leva a alma para o aposento de Deus amor.

Na prática do amor, os discípulos revelam-se como seguidores de Jesus e praticantes da palavra. Jesus ensina os discípulos a amarem como ele amou, oferecendo a sua vida: esta é a novidade. Quem ama é discípulo de Jesus, é continuador de sua obra, é fiel a ele.

O amor e a fidelidade à Palavra são inseparáveis e indispensáveis para quem segue a Jesus: são atitudes que tornam o Senhor presente. Quem guarda a Palavra é morada do Pai e do Filho. Quem é fiel ao amor e a Palavra é templo de Deus.

Duas semanas antes de Pentecostes, a liturgia já introduz o tema do Espírito: “Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tiver dito” (Jo 14,26). Também a primeira leitura traz o tema: “Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo” (At 165,28).

Na teologia joanina, o Espírito é chamado de Paráclito (João 14,16.26; 15,26; 16,7), o consolador, o defensor, o ajudador, o intercessor, aquele que é chamado para estar junto, defendendo e protegendo os fiéis. É uma das ações do Espírito por excelência. O Espírito Santo é como o mestre que ensina, recorda e dá testemunho de Jesus. Ele guia para a verdade, ajuda a manter, a interpretar, a discernir a presença de Deus na história, é alguém que permanece em nós, uma presença amiga, o “doce hóspede da alma”.

Atos 15,1-2.22-29 narra informações ligadas ao Concílio de Jerusalém. Este fato na história da Igreja primitiva foi realizado para discutir e encaminhar orientações para as comunidades da época. Os pagãos convertidos ao cristianismo deveriam observar os preceitos e costumes do judaísmo para serem cristãos? O que é necessário para seguir Jesus e acolher a salvação? Os critérios para seguir Jesus é acreditar nele como Senhor e viver o mandamento do amor. O cristão deve amar como Jesus amou. Deve deixar-se guiar pelo Espírito. Ele ajuda a discernir o que fazer.

Deus age na história, está presente com a sua vida (cf. Ap 21,10-14.22-23). A comunidade é a sua morada: “A glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o Cordeiro” (Ap 21,23). O Espírito é o dinamismo que impele a comunidade à missão.

Ser cristão é seguir Jesus. É ser fiel ao mandamento do amor. É ser fiel à Palavra. É deixar-se guiar pelo Espírito.

É bom tomarmos consciência que Deus nos ama primeiro pelo dom do Espírito (cf. Col 3,12; 1 Jo 4,7.10). Ele é quem derrama o amor divino em nossos corações (cf. Rm 5,5). Somos amados por Deus, e é no Espírito Santo que o amamos e ao próximo. Quando nos deixamos guiar pelo Espírito, Deus estará presente, e o seu amor em nós e por nós, a nossa fidelidade à Palavra, a paz, o consolo e a alegria.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.