Comemoração de todos os fiéis defuntos

Os cristãos sempre lembraram e rezaram em suas celebrações pelos falecidos.

Já no século IV havia o costume de rezar pelos mortos nas missas. E desde o século V, foi reservado um dia por ano para as orações em favor dos falecidos. No século X, foi instituída a celebração de finados, no dia 2 de novembro.

A morte é um mistério e sempre provocou perguntas e tentativas de respostas. Não é fácil compreender as perdas e a ausência de pessoas próximas e queridas. Ficamos impotentes, sem poder fazer simplesmente nada.

Os cristãos têm respostas à experiência da morte nas Sagradas Escrituras. Jó tem certeza de que Deus está vivo e que pode experimentá-lo: “Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros” (Jó 19,27). Jesus nos ensina que a vontade do Pai é a nossa ressurreição: “que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40). O apóstolo Paulo tem uma catequese muito importante, quando diz: “Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância quanto aos que adormeceram, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Com efeito, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos igualmente que Deus, por meio de Jesus, reunirá consigo os que adormeceram” (1 Ts 4,13-14). Cristo morreu por nós (cf. Rm 5,8). A nossa fé é a sua ressurreição e nossa, quando estaremos “sempre com o Senhor” (1 Ts 4,17). “Não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir” (Hb 13,14), nosso destino é a vida eterna, pois nossa alma é imortal.

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a morte não interrompe a comunhão com aqueles que professam a fé em Jesus Cristo. Entre os peregrinos na terra e os falecidos continuam a haver vínculos de solidariedade fraterna. Os que “morreram na graça e na amizade de Deus, que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo” (CIgC, 1023) e podem interceder por nós. Os que morreram na graça, mas não totalmente purificados, que levaram consigo “imperfeições” que precisam ser “purificadas” para poderem entrar no céu, necessitam e contam com a nossa oração. Eles já têm a garantia da salvação eterna, mas são purificados dos pecados veniais não perdoados antes da morte e das sequelas que permaneceram por causa dos pecados mortais perdoados em vida. Nós rezamos pedindo que Deus apresse a sua purificação e sua entrada no céu.

Comemoramos a nossa comunhão com os irmãos falecidos através de nossa memória e lembrança, com os nossos sentimentos de dor e de saudade. Comemoramos através de símbolos: o cemitério, lugar onde os mortos repousam por algum tempo, até a ressurreição plena e total; a cruz, sinal de nossa redenção e vitória de Cristo sobre a morte; as flores, sinais de vida, de gratidão àqueles que conviveram conosco; as velas acesas, símbolos de luz e alegria, de oração, da vida eterna que Jesus nos oferece.

O melhor lugar para rezar pelos nossos irmãos falecidos é na Santa Missa. A Eucaristia é o lugar do encontro: com Deus e com os irmãos vivos e mortos. Na comunhão fazemos a experiência profunda de encontro.

A morte dá lições para a vida. Pensar na morte nos leva a viver bem o momento presente, e a perceber que é o único que temos nas mãos, como dom de Deus.

Pensar na morte nos ajuda a buscar a Deus. Na morte vamos para Ele. O juízo é o encontro com o Deus que é amor e misericórdia.

Jesus nos ensinou que fomos criados não apenas para vivermos um tempo limitado na vida terrena, mas para vivermos uma vida eterna. A ressurreição é a comunhão plena com Deus, é viver com ele eternamente.

Dom Paulo Roberto Beloto

Bispo Diocesano.